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Crônica Vencedora do Concurso do Saldanha da Gama

Caros colegas, segue abaixo a crônica de minha autoria que foi vencedora do concurso de crônicas em homenagem ao centenário do Clube de Regatas Saldanha da Gama. Tive o privilégio, naquela oportunidade, de ser premiado ao lado do acadêmico Espiridião Fadul, da Academia Campista de Letras, e do confrade acadêmico Roberto Pinheiro Acruche. Este concurso foi realizado em 2006.

A moçada do Saldanha:


Meu avô era um homem bom. Sempre tinha um sorriso simpático e uma piada qualquer para animar o ambiente. Gostava de juntar coisas inúteis que, garantia ele, serviriam para alguma coisa. Gostava de pedalar numa velha bicicleta que pesava uma tonelada. Nunca teve muito dinheiro, mas não reclamava. Se divertia pescando num riacho que passava perto do pequeno sítio que, com muito custo e árduo trabalho, havia comprado. Na verdade, meu avô gostava mesmo de barcos ou de qualquer coisa que flutuasse. Ele se admirava até mesmo das folhas que seguiam bailando nas correntes do riacho.
Uma vez, meu avô me levou para ver uma regata. Achei interessante mas, confesso, nunca fui muito de gostar de esportes. Sempre gostei mais de livros. Mas eu me emocionava quando meu avô falava, com enorme entusiasmo, das disputas que ele havia presenciado numa tal cidade de Campos, há muitos anos. Ele sempre citava que torcia pela “moçada do Saldanha”, como ele dizia. Meu avô não teve oportunidade para ser um atleta do remo, mas eu sabia que ele gostaria de ser da “moçada do Saldanha”.
Com o seu espírito olímpico, ele elogiava todas as equipes de remo que via. Mas era inegável a simpatia que ele nutria pela “postura e galhardia” dos representantes do Clube de Regatas Saldanha da Gama. Ele achava fantástico que atletas imprimissem velocidade àqueles bólidos flutuantes. Sempre que assistia à uma nova regata, ele escolhia uma equipe para torcer. O motivo era sempre o mesmo: “Eles se parecem com os atletas do Saldanha da Gama”.
O destino tem seus caprichos. Fiz um concurso público e fui contratado para trabalhar em Campos dos Goytacazes, terra que meu avô tantas vezes visitou e onde nasceu minha avó. Uma das primeiras coisas que fiz foi procurar o Clube de Regatas Saldanha da Gama em frente ao rio Paraíba do Sul, no centro da cidade. Não encontrei. Fiquei assustado pois pensei que o clube estava extinto. Ainda bem, estava errado. O clube possuía uma sede nova no Bairro do Horto. Peguei meu carro, que meu avô dizia ser “coisa de milionário”, e parei em frente ao Clube. Meu avô não poderia estar fisicamente ao meu lado... Lembrei-me dele e uma furtiva lágrima bailou na minha face, como as folhas no pequeno riacho. Não consegui passar do portão de entrada...
Hoje, o Clube de Regatas Saldanha da Gama faz cem anos. Estou novamente parado em frente à sua sede. No ouvido da minha alma, meu avô conta uma piada e elogia a “moçada do Saldanha”. Vou deixar a saudade vencer a tristeza. Acho que vou atravessar o portão...


Carlos Augusto Souto de Alencar