Poema "Ladilala", de Carlos Augusto Souto de Alencar

Em homenagem aos 182 anos do nascimento do escritor inglês Charles Lutwidge Dodgson  (que ficou conhecido pelo pseudônimo Lewis Carroll), nascido em 27 de janeiro de 1832, publico meu poema "Ladilala" que foi inspirado em sua obra mais conhecida: "Alice no país das maravilhas". Este poema foi o quinto colocado no FESTCAMPOS de Poesia Falada no ano de 2011. Esta obra também tem raízes em "Doroteia", peça de Nelson Rodigues, e no quadro "Maya e a boneca", de Pablo Picasso. Espero que os leitores apreciem.


Ladilala:

Ladilala
tem asas e voa
no céu grená
iluminado pelo Sol verde.

Onde Ladilala voa
todos acompanham
bailando nas nuvens violetas
vendo o chão sobre suas cabeças.

Que alegria todos têm
ao ver a feiura de Ladilala
seus olhos tortos e fundos,
seu corpo disforme e sem graça.


Ladilala fica feliz
com a alegria de todos
mas sabe que a tristeza também é boa
quando serve de lição.

Um dia Ladilala caiu
num buraco no céu
e foi parar onde nem sabia,
lugar estranho, estranho...



O céu estava em cima,
o chão embaixo
as pessoas eram -que horror- lindas
e Ladilala não conseguia voar.


Todos fugiam de Ladilala
ou jogavam coisas nela
enquanto as lágrimas
saíam de seus olhos tortos.



Ladilala morava em becos
e aterrorizava-se ao ver,
em cada amanhecer,
o Sol amarelo no céu azul.

Depois de algum tempo
Ladilala percebeu que só os miúdos
olhavam para ela
e pareciam tristes, também.


Três deles vieram ao seu encontro:
um deu-lhe um livro,
o outro um conselho
e o último um beijo.


Levaram Ladilala
para um parque
e, quando brincava no balanço,
Ladilala caiu num buraco e voltou.


Todos festejam seu retorno
e cumprimentam Ladilala
que voa, com sua feiura,
iluminando os sorrisos.


O livro ela lê para todos,
o conselho ela segue sempre,
o beijo ela ensina aos feios
que voam no céu grená.


Ladilala, tão linda em sua feiura,
viu um mundo tão feio em sua beleza
e aprendeu que deve-se olhar sempre
para onde estamos voando...